BIOGRAFIA
Diplomatas é uma banda do Rio de Janeiro formada em 2016, que tem como objetivo o simples entretenimento. Com músicas que tem o punk rock como base, temperadas com rap, ska e hardcore.
Uma linha melódica marcante do trompete, da uma característica única ao som dos Diplomatas. O objetivo da banda é manter sempre um show para cima, com uma energia contagiante, não só para os amantes do gênero.
A banda é formada por Gringo Herrera (Baixo e Vocal), Vitor Hugo (Guitarra), Fabio Garcia (Guitarra), André Costa (Bateria) e Victor Leal (Trompete). Em meadosde 2017 lançaram o primeiro trabalho entitulado "DEMO", gravado no Estúdio GH, produzido por Gringo Herrera, gravado por Mr. Ed, mixado e masterizado por Fabio Garcia. Depois do lançamento do clipe de "Antissocial", estão divulgando o novo clipe, agora da música "Peixes".
Em fase de finalização está o novo disco ainda sem nome, que deve ser lançado já no início de 2018.
Lançamento pela GH Records.
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diplomataspunkrock@gmail.com
Sobre a primeira "DEMO" da banda Diplomatas
"Um homem correto enviado ao estrangeiro para mentir por sua pátria". Essa clássica definição de 1604 feita pelo inglês Henry Wotton destaca um dos aspectos mais interessantes da diplomacia: seu caráter ambíguo. A própria etimologia corrobora esse sentido; "diploma" e "matos" têm origem grega que significa “objeto duplo” ou “papel dobrado em dois”. O sentido atual que damos ao termo surgiu na França no final do século XVIII, quando “diplomacia” passou a significar a ciência voltada às relações políticas entre as nações.
As músicas de “Anti Social” parecem incorporar essa tradição e surpreende os ouvidos acostumados com o mais do mesmo. Gravado no Estúdio GH, o EP de estreia da banda carioca Diplomatas é um “objeto duplo”, repleto de ambiguidades propositalmente talhadas e, tal como proposto pelo ofício diplomático, apresentadas com astúcia, elegância e contundência!
A primeira faixa, “La santa muerte”, um circo nonsense serve de metáfora para narrar o cotidiano do sistema prisional brasileiro. Os versos poderosos despejam ironia e sarcasmo no drama vivido pela quarta maior população carcerária do mundo: “fazer papel de palhaço, isso pra mim tanto faz/ O homem bala tá perdido e vai acertar você”. Ali não há inocentes, e a mensagem é desesperançada: “o nosso ‘circo’ é sempre assim”, “se está infeliz me acompanhe que é chegada a hora”. A redenção, afinal, surge na hora “H”, quando se ajustam contas com a justiça suprema. “Acredite em La Santa Muerte!”, é o clamor do refrão – uma referência à entidade mexicana, tida como padroeira dos delinquentes e marginais.
Na segunda faixa, “Peixes”, o tom é mais rebelde, chegando a soar convocatório. A crítica recai sobre as ruas “cheias de ódio e rancor”, onde e as pessoas, fragilizadas, “sofrem e sentem muita dor”. Reféns de si mesmas, elas vivem “de boca aberta, escancarada”, paralisadas e, como num aquário, esperam passivamente. Afinal, as “migalhas vão cair”. Contra essa imobilidade, só a rebelião: “Não ter convicção/ Mais um na multidão/ Não quero ser mais um covarde pronto pra fugir”, é a mensagem clímax. Devemos nadar contra a corrente, recusar as migalhas.
“Anti social” é a faixa que dá nome ao EP e é absolutamente desconcertante. Primor poético onde nos deparamos com a angústia de um narrador em busca da sua voz. Uma luta pelo direito de falar por si mesmo, de se autoafirmar. Indivíduo que deve lutar, porém, contra vozes contrárias que animalizam e marginalizam a sua existência: “Dizem por aí que pareço um animal/ que fumo maconha, sou maluco, marginal”. Enfim surge a voz rebelde que não se identifica com os detratores e tampouco clama inclusão. Antes de tudo, um outsider: “Sou totalmente anti social”. Os versos sintetizam o projeto/manifesto da banda Diplomatas: não se alinhar ao que está posto, buscar alternativas sonoras e estéticas.
Em “Play the punk movement”, é o movimento punk que é submetido ao crivo irônico e sarcástico do trio. “Aperte o play pra começar/ Nossa maneira de fazer você pogar” não é exatamente uma convocação. O aperte o play soa mais como uma provocação, uma crítica aos que são contra tudo e contra todos, mas não superam o isolamento do seu próprio mundinho – o playground do seu condomínio – de onde esbravejam discursos anti isso, anti aquilo que tocam cada vez menos corações e almas. “Quero saber o que se passa em sua cabeça”, pergunta um dos versos. A grande sacada da faixa é o trompete que faz lembrar as antigas charangas dos bailes carnavalescos. Ácida homenagem aos movimentos que se intitulam “anti-carnaval”.
A quinta faixa, “Tiro de canhão (don’t stop)” é de fato explosiva. “O som que transforma qualquer situação em fato”, explicam as estrofes. Seguir sempre em frente é a meta. Ser ativo para não viver “como um parasita, vegetando igual você”. Afinal, a vida é demasiada curta e intensa como uma explosão, “que não dá pra explicar/ simplesmente acontece”. E assim ela avança, não muito generosa em explicações, mas maravilhosa em sensações. Gozos e gostos sempre disponíveis para quem tem gana de vida: “abra o olho, o ouvido e, se possível, o coração”. Assim sendo, “arriba, muchachos, don’t stop”!
Nas duas últimas faixas, o trio aposta no instrumental. “Quem jogou a bomba aqui” é um hardcore repleto de áudios sampleados de telejornais que noticiam atos terroristas pelo mundo. Ao fim, a única frase é repetida: “Quem jogou a bomba aqui”. Grito dramático que não deixa claro se é uma afirmação ou uma pergunta. No fim de tudo, o som de uma sirene desaparece em fade out. Melancólica ladainha do terror. O EP termina num tom mais alegre com “Old Town”. Novamente o trompete anima o som, dessa vez num ska que faz lembrar as trilhas dos antigos filmes de western spaghetti. Se for ouvida com imaginação ou após alguns tragos de whisky barato, é possível se imaginar em um filme do Tarantino. É para apreciar sem moderação!
Seria o Diplomatas uma banda “correta” que veio cumprir a nobre missão de “mentir”? Provavelmente “sim e não” seja a melhor resposta para essa pergunta marota. Em seu EP de estreia, a banda Diplomatas enfrenta os assuntos mais espinhosos com astúcia, elegância e contundência. Entretanto, prefere a ambiguidade para lidar com a complexidade do mundo atual. Em certa medida, “Anti social” recupera o sentido original do ofício diplomático, e vai além. O EP não é apenas um “objeto duplo”, mas um prisma caleidoscópico que reúne e reflete de uma só vez as múltiplas faces de uma realidade que recusa explicações simplistas. Não quer ser correto ou incorreto, nem contar verdades ou mentiras. “Anti social” apenas existe, e como tudo nesse mundo conturbado, “simplesmente acontece”.
Talvez o EP de estreia do Diplomadas tenha sido um dos melhores acontecimentos desse não menos conturbado ano de 2016. Duvida? Então abra “o ouvido e, se possível, o coração” e seja você também um pouco “Anti social”.
Resenha por Roberto Azevedo